quarta-feira, 10 de junho de 2009

Por fora bela viola...







Por Miriam Martins



Itamar era um cara meio introvertido e às vezes precisava de um empurrãozinho para conseguir sair com alguma gata. Um dia desses estávamos tomando umas no bar do Valcir, quando apareceu a Lucinete, irmã do Jonas lá da farmácia. Ela chegou num maravilhoso vestido lilás, cheio de rosas na estampa e um decote que deixava qualquer um boquiaberto. Mas o que ninguém esperava era que ela viesse acompanhada de uma tremenda gata. Uma morenassa de um metro e setenta de pura saúde. Pernas grossas e muito bem torneadas, coxas perfeitas dentro de uma mini saia branca e mini blusa amarela, que segurava uma farta comissão de frente. O bar todo se levantou quando a morena cruzou a porta de entrada. As duas ficaram sozinhas numa mesa no canto e ficamos com os olhos bem grudados nelas. Lucinete me reconheceu e eu a cumprimentei na esperança de que nos apresentasse a tal gata. Perguntei se não queria juntar-se a nós e ela agradeceu, mas preferiu não aceitar, com a desculpa de que aguardavam amigos.
Após muitas geladas e petiscos, constatamos que as duas tinham levado um baita bolo dos amigos e lá pelas tantas enviamos uma bebida de cortesia e um bilhete pelo garçom. As duas acabaram cedendo, aceitaram o convite e finalmente juntamos as mesas. Conversa vai, conversa vem, fiquei sabendo que a gata, Karen era o seu nome, havia ficado de olho no Itamar, logo em quem. O cara mal conseguia dar aquela olhada quando elas viravam de costas que ficava todo vermelho e eu empolgado acabei engrenando um papo gostoso com a Lucinete. A gata até que tinha um papo interessante, mas passava longe de ser um avião, um teco-teco, talvez e fui ficando por ali. De vez em quando dava um click nos dois pombinhos ao lado e percebi que a coisa estava ficando séria. Itamar pegou na mão da moça. Olha só, quem diria, o cara era mesmo um cavalheiro e até ajeitou a cadeira quando ela retornou do toilete. Bebericamos mais um pouco e Lucinete pediu-me que a levasse em casa e como o clima entre o casal estava esquentando, resolvi pagar a minha parte da conta e deixar os dois ali, na maior sintonia. Eu cheguei a duvidar da capacidade do meu amigo de conquistar as mulheres, mas pelo que vi, os mais tímidos é que se dão bem, porque pelo visto a mulherada adora esses tipos. Corri para casa, após deixar a Luci no portão de casa e antes que pudesse pintar algum clima e rolar algo mais do que uma simples noite de bate-papo, tratei de me despedir alegando que precisaria acordar muito cedo no dia seguinte e fui embora, doido pra saber qual seria o desfecho do fim de noite do mais novo casalzinho da praça. Até que o Itamar era um cara bem pintoso e costumavam dizer que se parecia com algum galã desses de novela, mas eu não me lembro qual. Pelo que ele contou e eu até hoje ainda duvido se foi realmente verdade ou se o cara amarelou e veio com desculpas. Disse que a gata deu pinta de que tava mesmo a fim e depois de alguns beijinhos no cangote e altos amassos na saída do bar, seguiram para um motelzinho na avenida principal. Trocaram mais beijos e carícias quando a morena deu um pulo e disse que precisava ir ao banheiro antes e assim o fez. Passou-se algum tempo e Itamar já estava ficando nervoso, todo preparado para arrasar e fazer bonito para a morena e nada. Começou a ficar preocupado, talvez ela tivesse bebido além da conta e estava passando mal, já pensou como faria para explicar uma mulher desmaiada no banheiro do motel. Começou a transpirar e a andar de um lado para o outro. Forçou a maçaneta da porta e estava trancada. Resolveu chamar e perguntar se estava tudo bem ou se precisava de ajuda e a gata limitou-se a responder que estava tudo bem e já iria sair. Ele então se animou. Talvez ela viesse com uma lingerie preta ou num espartilho ou quem sabe era sado e tinha algemas para colocar em seu pulso, não era muito fã, mas pela morena ele era capaz de tudo. Foi aí que ele se enganou. Alguns minutos depois a porta se abriu, com uma nuvem cinzenta atrás da morena que tinha o corpo completamente suado e nu. Um mau cheiro pairava no ar e contaminava todo o quarto. A gata tava podre. Tentou disfarçar e fechar a porta do banheiro, mas já era tarde. O futum já havia penetrado em todo o ambiente e ela muito constrangida disse que havia tido um desarranjo intestinal, mas que já estava melhor. O simpático cidadão murchou na hora. Tudo foi por água abaixo. Toda aquela eufórica ereção o abandonou, dando lugar à frouxidão e desespero. Não sabia se corria ou jogava-se da janela. Depois de despejar um caminhão de dejetos no sanitário, a mulher não teve a capacidade de se banhar e já saiu nua, pingando de suor e chamando-o de meu bem. O cara caiu fora na maior. Deixou o dinheiro do taxi, paguou a conta e saiu, com a desculpa de que sua mulher estava na maternidade e seu filho estava nascendo. Nunca mais ouviu falar da mulher e não tem mais visto a sua amiga Lucinete pelo bairro.
... de vez em quando encontro com o Jonas na farmácia e mando apenas lembranças, nada mais...