segunda-feira, 6 de julho de 2009

Por engano





Quando Clarice voltou de Belém, mal teve tempo de desfazer as malas e dar um beijo em seu marido e ele já tinha que voar, também a trabalho, para São Paulo. Passou longos cinco dias naquele lugar quente como o fogo, trabalhando no novo projeto da nova montadora para a cidade Paraense e, finalmente, teria alguns merecidos dias de descanso, enquanto Ivan viajaria para a cidade da garoa para participar de um treinamento pela empresa e só retornaria em dez dias. Pediu a Vanda, sua empregada, para arrumar a mala do Ivan, pois precisava ir a uma audiência a pedido de uma velha amiga, para testemunhar em seu favor numa antiga causa trabalhista. Na volta, passou na locadora e alugou alguns filmes e teve uma baita noite de amor, antes de ele pegar o vôo logo cedo no dia seguinte. Ivan deixou um bilhete colado na geladeira com alguns versos apaixonados e ela pensou como a vida de casados era boa e em nada se parecia com o transtorno de vida a dois que suas amigas relatavam na faculdade. Aproveitou o tempo para descansar e como boa carioca, pegou uma boa praia, leu bastante, um de seus passatempos prediletos e experimentou umas receitas novas de sobremesas, queimando algumas panelas e quebrando louças, para desespero de Vanda. E finalmente os dias se passaram rapidamente e apesar de saber que teria de voltar à labuta, estava feliz porque Ivan voltaria para casa e teriam algum tempo juntos, antes de recomeçar sua jornada de viagens pelo nordeste. A empresa estava implantando mais duas filiais, uma em fortaleza e outra em Maceió e precisaria contar com suas habilidades no projeto inicial. Pegou o carro na oficina e seguiu para o salão de beleza, precisava dar um jeito nos cabelos, retocar a raiz, fazer as unhas, depilação, essas coisas de mulher, antes de passar no aeroporto para buscá-lo. Ele chegaria no vôo das seis. Acenou para ele no desembarque e apanhou o carrinho de bagagens. Pegaram um enorme trânsito até cruzar a cidade. Chovia muito, mas, finalmente, Clarice conseguiu estacionar o carro na garagem e após um interminável e merecido banho, tratou de desarrumar a mala de Ivan, Vanda já havia ido para casa e ela precisava ajudá-lo com as roupas sujas, mas levou um baita susto ao abrir a mala, questionando-o: - Isso aqui não é seu, ou você muda de comportamento em suas viagens? – Estou casada com um travesti e não sei, ou melhor, eu sei exatamente do que se trata. Foram dez dias de muita luxúria e prazer com sua amante e essa e todas as outras viagens de negócios foram apenas pretexto para se encontrarem. Mas deixar a arma do crime para eu encontrar e nem se dar o trabalho, ou pelo menos ter o cuidado de escondê-la de mim. Ivan tentava se desvencilhar de alguns empurrões, explicando-se e afirmando incessantemente de que realmente não sabia como aquela bolsa de maquiagens havia ido parar em sua mala. De certo, algum engraçadinho da empresa estava tentando lhe pregar uma peça ou definitivamente queria lhe prejudicar. E mal conseguiu dizer essas poucas palavras e já foi recebendo socos e pontapés de sua amada mulher. Eram murros e arranhões, sem falar dos palavrões e agressões verbais, dizendo que não era idiota ou palhaça de circo para acreditar em estórias frágeis como aquelas. Apanhou toda a bagagem de Ivan e jogou escada abaixo, além de atear fogo na arma do crime, acendendo a lareira da sala. Ivan partiu para a casa de sua mãe, sem saber qual crime havia cometido e nem mesmo tinha álibi para uma possível defesa. Dona Sheila odiou a nora pelo acontecido, mas também tinha a pulga atrás da orelha. Não deixava de se perguntar se poderia ser mesmo verdade e seu filho o culpado. Afinal, ele era seu filho mas, como todos os homens que passaram por sua vida, talvez pudesse estar escondendo algo e quem sabe ter uma amante. No dia seguinte Clarice teria que voltar ao trabalho e passar na empresa para se apresentar, apanhar alguns contratos e redesenhar outros projetos, mas não tinha cabeça para pensar em trabalho. Não naquele momento em que sua vida amorosa estava em pedaços e seu casamento em crise. Não parava de pensar na traição de Ivan e como ele pôde fazer isso com ela, que sempre se dedicou tanto e jamais olhou para outro homem. Abriu a porta de sua sala e pôs a bolsa na mesa e sequer cumprimentou as pessoas em sua volta. Sentou-se e abriu o computador, checando seus emails sem qualquer entusiasmo, quando Kátia, sua colega de trabalho não escondendo sua preocupação com Clarice, perguntou: - O que há com você, Clarice? Está tão abatida e mal respirou desde que entrou aqui. Desabafe. O que está acontecendo? Algum problema familiar? Quer desabafar? E Clarice balançou a cabeça negativamente, pedindo apenas um tempo pra se recuperar e depois conversaria com Kátia, que respeitou o desejo da amiga e levantou da cadeira. Foi em direção à porta, mas lembrou-se de algo que precisava perguntar e retornou à mesa de Clarice indagando-a: a propósito, por acaso não encontrou nenhuma bolsa de maquiagens marrom escuro em sua mala? Estou procurando desde que voltamos de Belém. Pensei que pudesse ter confundido as malas quando dividimos o quarto na última viagem e... Clarice deu um pulo da cadeira e saiu feito louca. Pegou um táxi na porta da empresa, pedindo que voasse até o centro da cidade. Irritada com o trânsito guiou o motorista por um atalho e logo que chegou à porta do escritório de Ivan, saiu correndo pedindo para que o motorista a aguardasse. Subiu quatro andares pelas escadas, não havia tempo para esperar o elevador. Abriu a porta e sem paciência foi direto para a sala do marido, entrando sem bater e assustando a todos no recinto. Fechou a porta atrás de si e desabou a chorar pedindo a Ivan que lhe perdoasse, pois havia cometido um enorme equívoco. Tudo se ajeitou, Clarice acalmou-se e os dois fizeram as pazes. Ivan declarou seu amor e Clarice não cansava de pedir desculpas pelo desequilíbrio de chegar sem avisar e entrar daquela forma, mas que jamais poderia imaginar que a bolsa de maquiagem fosse da colega de trabalho, esquecendo-se completamente de que os dois dividiram a mesma mala, pois a sua estava no conserto. Com tudo finalmente esclarecido, entrou no taxi e voltou para a empresa. Subiu e apanhou sua bolsa para pagar a corrida, retornando a sua sala e em seguida ligando para o ramal de Kátia, que atendeu após alguns segundos. Disparou ela: - Acho que lhe devo explicações e por falar nisso, onde comprou aquele estojo de maquiagens, preciso comprar um igual...

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu adooooooooo. Ri muito!
Parabéns.

beijcoas amiga!