segunda-feira, 24 de agosto de 2009

"Julieta" (O fascínio)




Parecia uma diva, dessas que são eternizadas pela simplicidade de sua beleza. Leve, como véu que voa ao encontro do vento, tornando o ballet ainda mais emocionante. Doce magia no olhar perdido e intrigante. O suave contorno de seu corpo atravessava a alma do jovem com ânsia de sentimentos efêmeros e paixões incondicionais. Convicção, medo, depressão, desespero. Amor impenitente. Fragilidade a exaustão. Descompasso da solidão que fere escandalosamente seu insidioso coração. Insípido silêncio que o torna egocêntrico na busca pelo prazer da carne. Tentativas incessantes de aproximação e o medo da entrega deixavam-no às cegas. Nesse momento alcançava o delírio do desejo e podia sentir calafrios por toda a nuca. Admirável, porém intocável. A impaciência o rodeava e sentia-se destemido. Encarava seus olhos e imaginava a consistência de sua pele, sentia a fragrância de seu corpo e lamentava mais uma vez a distância que os separava. Se ela soubesse de sua devoção, encontraria o túnel que os ligaria através da eternidade e o tornaria menos melancólico. A vida lhe faria sentido se pudesse alcançá-la. Sonhava em poder tocá-la, acariciá-la e dar-lhe vida através de seu desejo. Se ela pudesse imaginar sua imensurável admiração, compreenderia a necessidade de criar o elo para o encontro essencial que os uniria definitivamente. Sigilosa e imprevisível hesitação. Aprazível desassossego. Lúgubre submissão. Infortúnio afeto. Carência e abandono. Não havia outra definição para tal fixação. Apego ou ingenuidade. Tênue estímulo. Domínio herege sobre o ser que padece na imensidão de um inatingível e insensato sonho. Desolação. Intensa extravagância irônica do destino. Cálido sentimento, porém digno em toda a sua plenitude. Semente que brota da mais árdua rocha. Ilustre e inopinada sinfonia de anjos. A insignificância perante a grandeza do desejo da alma. Solene amargor da obsessão desenfreada. Abominável solidão e frenético desatino. Céu. Estrela cintilante que persiste em brilhar sem louvores, ainda que raie o dia e seja possível ouvir. Estrépito e insólito lamento. Insubordinável desejo. Expressão contida. Neura chancelada. Parcos momentos de sobriedade. Culpa. Ira. Reflexos isolados de insanidade. Pulsação veloz que comprime o lépido ser que espia. Desleal opressão que domina e castiga o peito e esconde a fátua realidade. Monótona insatisfação. Fascinação melancólica do amor platônico e irreal. Redenção. Desapego repentino. Calmaria. Absolvição. Lucidez. Podia passar horas, todo o dia observando, admirando e deleitando-se com aquela atraente pintura. Considerava o quadro mais perfeito de todos. As portas se fecharam, dando lugar à total escuridão. E com a luz do sol seria reaberto no dia seguinte, permitindo que Ruben recomeçasse seu longo ritual, realizando-se única e exclusivamente através da apreciação do quadro de Ruan Pablo Hermegé.

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